‘Sorria’ explora traumas e estigmas sobre saúde mental para oferecer sustos eficientes

Aquiles Marchel Argolo
2 min readOct 7, 2022

Há quem prefira o terror em seu estado simples, sustos baseados em sangue ou aumento repentino de volume e, há quem prefira a construção de clima e tensão do terror psicológico, que traz sempre um plano de fundo mais complexo por trás dos monstros, fantasmas e assassinos. “Sorria” traz um pouco de cada sem parecer bobo como alguns exemplares tradicionais do gênero e nem pretensioso demais como muito besteirol travestido de terror psicológico.

Após um paciente sofrer um trauma, Rose, uma psiquiatra viciada em trabalho, começa a ser perseguida por uma entidade que pode se transformar em qualquer pessoa e traz um sorriso sinistro como principal característica.

Logo na sequência inicial, temos um apontamento sobre como pessoas com saúde mental afetada por traumas são desacreditadas mesmo por profissionais da área psiquiátrica, também sobrecarregados e subestimados por sua rede de apoio numa retroalimentação de sofrimento que não oferece rede de apoio adequada. A entidade ataca através dos traumas que enfraquecem a psique dos personagens, sendo sua forma de “contágio” também uma maneira de reforçar o sentimento de angústia.

A estrutura da maldição que persegue a protagonista até que uma forma de quebrar seja descoberta faz com que a trama de ‘Sorria’ seja familiar, mas nunca cansativa. O abandono do qual Rose é vítima, reforça a tensão, já que acompanhamos a gradativa deterioração de sua sanidade enquanto família e marido parecem querer se distanciar da realidade complexa de lidar com alguém que está desmoronando.

Praticamente todos os sustos de ‘Sorria’ funcionam, desde os jumpscares, que mesmo previsíveis, são beneficiados pela tensão eficientemente construída, até os mais inesperados. Parte dessa eficiência se deve à direção de Parker Finn, que comandando a competente Sosie Bacon, imerge o público no estado de colapso iminente da protagonista e faz com que cada abrir de porta e cada deitar na cama se torne uma experiência angustiante.

Aquiles Marchel Argolo

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Aquiles Marchel Argolo

Jornalista, apaixonado por comunicação, cultura pop, música, quadrinho e literatura. Pseudocinéfilo, pseudocult. Contrariando as estatísticas.